quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Felizes são os fracos.

Essa afirmação de Jesus é totalmente estranha ao nosso mundo onde os
fortes, os ricos, os aplaudidos, os admirados, os bonitos e os poderosos
parecem escrever a história. Os fortes estão na mídia e ditam os
costumes, estabelecem os padrões de comportamento, influenciam as
pessoas em relação aquilo que elas irão gostar e comprar. As pessoas, em
geral, os consideram felizes. Afinal, nas revistas e na televisão, eles
sempre aparecem sorrindo e lançando palavras positivas. Contudo, Jesus
diz que felizes não são os fortes, mas os fracos. “Bem-aventurados –
felizes – os humildes de espírito”.
Os humildes de espírito são aqueles indivíduos que olham para si
mesmos e se reconhecem fracos, frágeis, limitados, tantas vezes cansados
e esgotados diante das pressões do dia-a-dia. Eles não têm neles mesmos
mais forças para continuar lutando contra os demônios que aparecem ao
meio-dia e nas sombras da noite. São muitas as batalhas que acontecem
tanto do lado de fora, nas situações e trincheiras do cotidiano, quanto
do lado de dentro, nos castelos interiores da alma.
Aquele ímpeto, muitas vezes corajoso e arrogante, do primeiro Moisés –
eu vou tirar o povo do Egito com a força do meu braço, eu vou fazer e
acontecer, eu tenho posição, autoridade e capacidade – deu lugar à
fragilidade do segundo Moisés que, depois de uma longa jornada de 40
anos no deserto, diante da sarça ardente confessou: “eu não sei falar”,
ou, em outras palavras: “na verdade, eu não sei para onde ir e nem por
onde começar.”
No humilde de espírito, a força deu lugar à fraqueza e abriu espaço
para que o poder de Deus se aperfeiçoasse, como o próprio apóstolo Paulo
afirmou: “O poder se aperfeiçoa na fraqueza.” Os argumentos cessaram,
as palavras sumiram, os recursos acabaram, os exercícios espirituais se
mostraram limitados e o indivíduo se encontra sozinho, no deserto da
existência humana, desnudo diante do seu Deus e, talvez, pela primeira
vez na vida, reconhecendo as próprias limitações.
O coração pródigo, que um dia gastou todos os seus bens, palavras e
sonhos numa terra distante, e que agora se encontra fragilizado, rodeado
de angústias, perplexo diante das tantas perguntas sem respostas e
ansioso quanto ao dia de amanhã, sabe que não tem mais nada a oferecer a
ninguém. Ele reconhece que está na total dependência e liberalidade do
Outro. Sem ele saber, durante a sua peregrinação pelas veredas da vida e
emaranhados das escolhas pessoais, ele se abriu para o maravilhoso
encontro com Deus e sua bendita Graça.
Para os que não sabem, Graça é favor, nunca retribuição; é imerecida,
nunca conquistada; é estendida aos que perderam, nunca aos que se acham
vencedores; é revelada aos fracos, mas permanece oculta àqueles que se
acham fortes; é presente de Deus, jamais uma realização da força humana.
Os fortes nunca a encontram, mas, segundo Jesus, os fracos são
bem-aventurados, pois deles é o Reino dos Céus.
Que a força de Jesus nos preencha em nossa fraqueza.

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